JESSEANTENADO

segunda-feira, 22 de abril de 2013

CONHEÇA COMO FUNCIONA UM PRESÍDIO EXCLUSIVO PARA PMs PARA ONDE DEVERÃO IR OS CONDENADOS DO CARANDIRÚ



Única prisão no estado de São Paulo exclusiva para policiais militares, o Presídio Militar Romão Gomes pode ser o destino dos 23 PMs condenados pelo massacre do Carandiru a 156 anos de prisão cada um. Na última semana, o G1 visitou os pavilhões da unidade prisional que fica na Zona Norte de São Paulo e completou 64 anos no domingo (21).
Com 184 das 225 vagas ocupadas por presos até terça-feira (16), a unidade tem espaço para mais 41 internos, segundo a Justiça Militar. "Se os réus do Carandiru forem condenados, eles vão ocupar todas as vagas sem superlotação", havia dito o tenente-coronel Daniel Augusto Ramos Ignácio, comandante e diretor do Romão Gomes, antes da condenação dos policiais militares.
Sob a condição de não terem seus nomes divulgados nem os rostos fotografados, os detentos conversaram com o G1 sobre suas rotinas no presídio e a respeito do julgamento. Para a maioria, a condenação pelo massacre do Carandiru seria difícil de ocorrer.
"Não sei se teve um culpado ou todos foram culpados. A probabilidade de serem condenados é pequena", disse um subtenente da PM aposentado que está preso no Romão Gomes. Ele contou que um dos réus do massacre do Carandiru é seu amigo. "Não espero vê-lo aqui".
"Houve um pouco de abuso ali na ação dos PMs que invadiram o Carandiru. Foram 111 mortos. Acho que serão condenados porque a sociedade atualmente não tolera mais abuso de autoridade", disse um soldado detido no presídio.
Entretanto, mesmo com condenação, a ida desses policiais para o Romão Gomes pode demorar. Em geral, a jurisprudência diz que réus soltos que são condenados ficam fora das grades até que suas defesas esgotem os recursos nas instâncias superiores.
Além disso, parte dos acusados se aposentou ou se desligou definitivamente da corporação. Nestas condições, o destino dos PMs condenados pelo Carandiru seria uma prisão comum, onde há pavilhões seguros para garantir a integridade física deles. A Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo, costuma abrigar presos em risco.
Atualmente, só parte dos 23 PMs condenados continuam na ativa. Alguns foram promovidos e se tornaram oficiais mesmo com a acusação de assassinatos.
O homicídio, aliás, é o tipo de crime que mais manda PMs para o Romão Gomes. Dos atuais 184 detentos, 96 (52,1%) estão lá por homicídio, segundo levantamento recente feito pela administração da casa. Crimes sexuais e roubos são as outras violações mais comuns.
"Não tem gente boazinha aqui não. Tem gente perigosa", disse Daniel Ignácio, comandante do presídio em que os presos têm uma rotina diferenciada: são identificados com crachás, vivem em celas abertas ou dormitórios com televisão, mas só podem jogar futebol com autorização por escrito.
Entre os presos está o advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, o mais famoso detento da casa, condenado em março a 20 anos de prisão pela morte da advogada Mércia Nakashima, ocorrida em 2010.
No passado, as "figuras ilustres" do Romão Gomes haviam sido Cabo Bruno – que ficou 27 anos preso por chefiar um esquadrão da morte – e o soldado Otávio Lourenço Gambra, o Rambo  – conhecido por aparecer em imagens que registraram a agressividade da polícia na Favela Naval, em Diadema, no ABC.
A equipe de reportagem do G1 não passou pela porta de detector de metais do Romão Gomes, mas teve as mochilas revistadas. O telefone celular do fotógrafo foi confiscado temporariamente.
Nas guaritas, PMs fardados e armados vigiam os colegas presos, que vestem camisetas amarelas com a inscrição PMRG em letras garrafais, sigla do nome do presídio. Calças beges e botas pretas completam o visual dos detentos.

Como num presídio comum, a maioria se diz inocente e afirma ter sido vítima de armação. Poucos dizem ter errado.
Um dos que assume ter cometido crime é um ex-soldado da PM, expulso da corporação em 2006. Prestes a completar 38 anos de idade, ele foi condenado a 109 anos e oito meses de prisão pelo assassinato de cinco pessoas e por três tentativas de homicídios. É o detento mais antigo e com a maior pena do Romão Gomes.
"Matei mesmo. Matava porque os bandidos do bairro onde eu morava queriam matar e sequestrar a mim, minha esposa, na época, e meu filho. Eu não paguei para ver", contou o ex-policial. "Comecei depois que os malas furtaram o som do meu carro. Não tinha horário. Conforme eles apareciam perto, eu percebia e matava". Segurando uma Bíblia, ele disse estar arrependido do que fez.

"Eu errei e me converti. Hoje dou palestras. Fui condenado em oito julgamentos. Fui condenado por 56 jurados. Mas nenhum deles me conhece como Deus. Esse sim me conhece, me julgou e me perdoou pelo que fiz. Espero conseguir o semiaberto em 2017", afirmou o fiel da Congregação Cristã no Brasil. Apesar da condenação a mais de 100 anos, a expectativa pela saída tem explicação: pela lei, ninguém pode ficar mais de 30 anos preso.



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